Dorian Gray Caldas (1930),
dessemelhante da personagem homônima, é professor da arte de viver e
proprietário do que sonha. É o artista da Cidade. Nascido em 1930, Dorian é
polímata: pintor, desenhista, tapeceiro, gravurista, escultor, poeta, ensaísta,
historiador. “Nasci, vivi, morri/ muitas vezes. Dividi-me/ em muitos,
multipliquei-me/ em tantos.” Apoiado pelos deuses, seja feito o seu destino, o
de inovar em sua arte, com lirismo e devoção: Nenhuma lua morre em minhas mãos.
Pintor de emoções, fraterno artesão, escultor da palavra, artista de Natal são
algumas expressões que apenas adjetivam. A sua arte exige neologismos:
doriânica, para o doriânico amigo da cidade. Um homem feito em cores, ouro e
cinza. O próprio nome sugere: Dorian, ouro, e Gray, cinza. A sua poesia é
também a presença da natureza, da religião, dos sentidos e sentimentos que
reclamam de nossa alma a consciência universal de que, vindos do pó, aonde
retornaremos, somos mais que areia a escorrer na ampulheta da vida. Somos
poesia, de comunhão de formas, cores, signos, perfume, calor, sons em harmonia.
Transforma em artes plásticas o que Câmara Cascudo escreveu, o Mar Antigo e
sempre novo, o Homem e o seu Chão, a Cor estabelecendo o que vem na Alma:
“Pinto as pessoas que ainda se alegram e que se vestem pensando que são reis,
rainhas”. O povo sempre acrescenta ao tangível o seu imaginário. Ao receber o
título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
disse: “Sempre tive e tenho a destinação inequívoca da verdade. O homem
nordestino/ brasileiro, com seus fazeres e seus sonhos, suas fantasias e seus
fetiches, sua fé e os seus ritos. Mitos. Não temo o desagrado e raramente pinto
flores. Não ponho maquiagem no rosto dos que sofrem, frequentemente obtenho
mais do que me proponho, e razoavelmente registro a alma subliminar dos que
amo. Venho da infância com esta compulsão para a arte, a poesia, o sonho.
Desenhei
nos meus primeiros anos com fúria
e paixão. Tudo que via, percebia, era uma extensão de minhas mãos, da minha
sensibilidade. É natural que este exercício fundamentava- -se na apreensão
figurativa imediatamente observada e copiada. Algo, todavia, já transbordava
dos registros. Desenhava semelhanças com relativa facilidade. Incorporei depois
a escultura, a pintura, os fundamentos teóricos e técnicas essenciais à
construção do meu trabalho: nascia a gravura, a tapeçaria, o afresco, o mural,
a cerâmica, os metais, o óleo. Vindo de informações acadêmicas, sem
escolaridade, certamente chegaria ao moderno pelo mesmo caminho, pelo
autodidatismo, adaptativo vocacional intuitivo, exercitado pela capacidade
receptiva de sentir a arte e premiar as minhas prioridades eletivas. Assim
caminhei em direção dos registros humanos, segmentos, marginalidade, rio, mar,
autos da cidade, luz e cor, fantasias de reis rainhas, fugas coloridas da
miséria de muitos, redivivas pelo ritmo da dança, os papéis coloridos dos
brincantes; as luas de falsos metais, o brilho dos punhais, a festa aguda e
deslumbrante das peripécias urbanas”. A sua obra plástica ornamenta recantos do
Brasil e de muitos países. Ao recriar o Universo, Dorian Gray vive a A
FONTE – REVISTA TCE RN
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